Do Hype à Realidade
Entre memes e teorias da conspiração, muito se especula sobre este momento inédito que estamos presenciando com as novas tecnologias. A era da transformação digital que se iniciou há menos de uma década, agora dá lugar a uma fase de aprimoramento e tentativa de automatização de tarefas operacionais. Desde que a Inteligência Artificial se popularizou, muito graças ao ChatGPT, não restam dúvidas que ela chegou para ficar em nossas vidas.
Em termos empresariais, isto se traduziu numa espécie de “nova corrida espacial”, em que empresas de todo o mundo disputam influência e espaço de mercado para apresentar soluções com base em IA e IA Generativa. Isso se justifica quando vemos que, segundo a IBM, 75% dos executivos* estão sendo pressionados a criar um projeto com IA – e mais da metade não sabe o que fazer.
Esta “corrida pela IA” ocorre não só pelo hype da tecnologia, mas também pelo medo da comoditização. Segundo especialistas, é inevitável: ela vai acontecer. A diferença está justamente em como organizamos os dados que alimentam estas ferramentas.
Estes foram alguns dos debates que presenciamos no Web Summit Rio 2024 e que, por sinal, apresentaram um tom bem mais razoável e “pé no chão” sobre as expectativas em relação à Inteligência Artificial. Agora, o frenesi inicial dá lugar a um segundo momento, onde a preocupação está mais ligada às consequências éticas, financeiras e sociais decorrentes da adoção em massa da IA.
Uma boa analogia para este período que vivemos com a IA e GenIA é a de uma criança em fase de alfabetização. Nesta fase da vida, temos uma visão de mundo limitada e tomamos como verdade absoluta aquilo que nossos pais e educadores nos ensinam. Da mesma forma, um erro comum dos usuários é não usar o senso crítico ao lidar com as respostas geradas pela IA.
Assim como as crianças, a inteligência artificial só compreende aquilo que está em seu próprio universo.
É aí que entra o papel do “adulto responsável”, aquele que vai conduzir o processo em busca de desenvolver o máximo potencial do letrando.
Em termos tecnológicos, isso quer dizer que as informações dos data lakes devem ser melhor endereçadas à IA generativa para então executar tarefas - é como o processo educacional de ensinar uma criança a raciocinar, falar e tomar decisões.
Por isso, tantos palestrantes do evento trouxeram o mesmo ponto em comum: o foco precisa estar nos dados. Isso inclui, principalmente, um foco na arquitetura e governança de dados - afinal, a IA ainda conhece muito pouco de LGPD e o próximo passo exige um nível maior de maturidade e adaptação da governança.
Especialistas no evento também chamaram a atenção para a necessidade de mudanças da mão de obra em todos os níveis.
Quando nos damos conta que 6 a cada 10 pessoas precisam de ajuda para aprimorar sua força de trabalho nesta nova era da IA**, isto acende um alerta e diz muito sobre a necessidade do foco em treinamento e capacitação.
** Fonte: palestra de Justina Nixon-Saintil, VP e Chief Impact Officer da IBM, e Marcelo Braga, presidente da IBM Brasil.
Além disso, precisamos continuar considerando a diversidade no que diz respeito à IA, uma vez que já tivemos muitos relatos, principalmente com a IA Generativa, de respostas que desconsideravam ou não refletiam as diferentes nuances e camadas da nossa sociedade. Trazer grupos minoritários para a discussão aprimora os resultados.
Não é apenas sobre soluções ou plataformas tecnológicas, mas sim sobre o impacto cultural e social da inovação. Do nível executivo ao operacional, quem vai chegar na frente é quem se preparar melhor.
Voltando à nossa analogia, tal como uma criança prodígio, a Inteligência Artificial possui um imenso potencial de evolução, mas precisa ser guiada por adultos responsáveis e preparados para alcançar seus melhores resultados. Afinal, novas tecnologias só fazem sentido se conseguirmos entregar o básico bem feito para o cliente e fomentar a evolução na sociedade.