Por que a acessibilidade na web ainda é um desafio?
De acordo com um estudo recente do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), aproximadamente 8,9% da população brasileira, ou 18,6 milhões de pessoas, têm algum tipo de deficiência. Esses números refletem uma parcela significativa da sociedade que enfrenta barreiras ao acessar informações online.
Em um mundo ideal, esperaríamos que a maioria dos sites fosse acessível a todos, independentemente de suas habilidades. No entanto, a realidade é bem diferente. Muitos sites apresentam layouts confusos, conteúdo mal organizado e falta de recursos de acessibilidade, como descrições de imagens e contraste adequado, dificultando a navegação para pessoas com deficiências visuais, auditivas, motoras ou cognitivas.
Uma das razões para essa lacuna na acessibilidade é a falta de conscientização e compreensão por parte das empresas. Muitas vezes, as empresas ignoram as necessidades de acessibilidade por considerá-las irrelevantes para seu público-alvo ou por temerem custos adicionais de implementação. No entanto, é importante lembrar que o acesso à informação é um direito fundamental, protegido por lei.
A Lei nº 10.098 estabelece a obrigação de promover a acessibilidade digital para pessoas com deficiências físicas ou mobilidade reduzida, garantindo que todos possam utilizar dispositivos e formas de informação e comunicação com segurança e autonomia. As Diretrizes de Acessibilidade para Conteúdo da Web (WCAG) 2.1 fornecem um conjunto abrangente de recomendações para tornar o conteúdo online mais acessível para uma ampla gama de deficiências. A WCAG é a melhor referência para a criação de conteúdo acessível na web devido à sua padronização global, estabelecendo regras de acessibilidade reconhecidas e adotadas internacionalmente. Em comparação, a E-MAG é específica para o Brasil, atendendo às necessidades locais.
No entanto, a abrangência e a universalidade da WCAG tornam-na uma escolha superior para alcançar um público mais amplo e diversificado, assegurando que todos, independentemente de sua localização, tenham acesso igualitário à informação e aos serviços online. Existem diversas ferramentas disponíveis para ajudar desenvolvedores a identificar e corrigir problemas de acessibilidade em seus sites e aplicativos.
Entre essas ferramentas, destacam-se:
Wave: Esta ferramenta realiza uma varredura no conteúdo da página e identifica elementos que podem representar barreiras de acessibilidade. Ela destaca áreas problemáticas, como imagens sem descrição, links sem textos explicativos e outros elementos que podem dificultar a compreensão ou utilização por parte de pessoas com deficiência.
Ases: Similar ao Wave, o Ases também realiza uma análise automatizada da acessibilidade de páginas da web, fornecendo feedback sobre possíveis problemas e sugestões de correção, baseando se apenas nas diretrizes da E-MAG.
AcessMonitor: Esta ferramenta oferece funcionalidades semelhantes às anteriores, auxiliando os desenvolvedores na identificação de falhas de acessibilidade e na implementação de melhorias.
Além dessas ferramentas, também existem extensões de navegador, como o Color Contrast Analyzer e o Axe DevTools, que podem ser utilizadas para avaliar a acessibilidade de páginas da web durante o processo de desenvolvimento.
No entanto, é importante ressaltar que essas ferramentas, embora sejam úteis na identificação de problemas de acessibilidade, não conseguem simular completamente a experiência de uso de pessoas com deficiência. Elas fornecem uma análise automatizada, mas a avaliação final da acessibilidade de um site ou aplicativo deve envolver também a participação de pessoas reais, incluindo aquelas com diferentes tipos de deficiência.
Apesar das ferramentas disponíveis, a implementação efetiva de práticas acessíveis ainda enfrenta desafios significativos. Um dos principais desafios é a falta de conscientização e entendimento sobre a importância da acessibilidade entre os desenvolvedores e designers de sites e aplicativos. Muitos ainda não consideram a acessibilidade como uma prioridade durante o processo de desenvolvimento.
Além disso, a retrocompatibilidade com sites já existentes pode ser um desafio adicional. A inclusão de práticas acessíveis em um site ou aplicativo após sua criação pode ser mais complexa e custosa do que se fossem implementadas desde o início do projeto. Isso porque pode exigir alterações significativas no design e na estrutura do conteúdo, bem como tempo adicional para testes e validação.
Outro desafio é a falta de regulamentação e fiscalização eficazes em relação à acessibilidade na web. Embora haja diretrizes e padrões de acessibilidade, como as estabelecidas pelo W3C (World Wide Web Consortium), a conformidade com essas diretrizes são obrigatória e previstas por Lei (LBI, Art. 63) mas em sua maioria não são aplicadas por falta de conhecimento a normas e padrões.
É fundamental que as diretrizes de acessibilidade sejam incorporadas desde o início do processo de criação de um site ou aplicativo. Isso não apenas facilita a manutenção futura, mas também garante que todos os usuários, independentemente de suas habilidades, possam acessar o conteúdo de forma eficaz.
Como profissionais da área, é nossa responsabilidade educar e orientar os clientes sobre a importância da acessibilidade na web. Os clientes, por sua vez, devem reconhecer que a conformidade com as normas de acessibilidade não apenas cumpre a lei, mas também promove a inclusão e a independência de todos os usuários.
Portanto, a pergunta fundamental que deve ser feita é: "Para quem você deseja que seu site seja acessível?" Se a resposta for "TODOS", então é crucial seguir as recomendações das diretrizes de acessibilidade, realizar testes com pessoas com deficiência e garantir que seu produto ou serviço seja verdadeiramente inclusivo e relevante para todos os usuários.
Acessibilidade é um exercício de empatia.